quarta-feira, 26 de junho de 2013

Porque eu continuarei indo às Ruas




Durante alguns dias, após o primeiro protesto realizado em Blumenau, eu me calei. Naquele protesto – 20/06/13 –, enquanto alguns gritavam frases de efeito sem sentido e ofensivas, ou cantando o hino nacional, eu silenciei. Daquela massa, também ouvi muitos gritos fascistas, encharcados de preconceito. 

Arrepiava-me de horror e medo cada vez que ouvia o hino nacional. Medo dos significados implícitos naquele cantar catártico e nada reflexivo, que pode reforçar ainda mais as hipocrisias e os fascismos cotidianos, dos que pregam a não violência e igualdade de gênero, mas só até o momento em que o seu vil metal possa estar ameaçado por pessoas que eles chamam de ‘desordeiros’.  Pessoas ‘pacíficas’ que não titubeiam em chamar uma moça de vagabunda, na primeira manifestação que ameace um cenário-cidade e tudo o que representa: ordeira, mas preconceituosa, muito longe da cidade que alguns ainda desejam ver e sentir: dinâmica, inclusiva, participativa e crítica.

Foto: Reprodução
Mas me manifestei no momento que achava que o que se reivindicava era relevante e com proposições que podem significar mudanças, especialmente para Blumenau. Também entoei e iniciei alguns dos gritos-proposições, ali presos na garganta há muito tempo.

O grupo em que eu estava – pois não éramos multidão, mas sim pequenos grupos aglomerados – também bradou contra a homofobia felicianista, pedindo que a Câmara dos Deputados não aprove o decreto legislativo que autoriza a cura de gays. Bradou contra os vereadores cassados em primeira instância no Judiciário, mas que continuam lá na Câmara de Vereadores, que não deflagra uma CPI; a favor do passe livre, porque mobilidade urbana é urgente sim e transporte coletivo gratuito reduzirá drasticamente os gastos com milionárias e infindáveis pontes e viadutos, o número de carros, e diminuirá esse trânsito caótico, porque acreditem ou não, todos nós somos o trânsito. Bradamos pelo nosso corpo livre, do poder estatal e de convicções religiosas dos outros.

Assusta ver o fascismo juvenil, velhas e encarquilhadas ideias, desmandos e autoritarismos em rostos tão jovens! Mas esse fascismo, além de ter sido construído pela mídia de massa, também tem sua grande parcela de culpa numa política governamental desenvolvimentista e voltada ao consumo e à competição, que incentiva a satisfação no frágil acúmulo de supérfluos bens e deixa de lado a cultura e a educação, responsáveis pela construção do ‘ser’ e do ‘saber’. Assusta ver o Racismo de Estado que passa com seus tratores, garimpos e hidrelétricas sobre os índios, acuados e deixados a morrer, sob o olhar cúmplice de todos os telespectadores. É triste ver a história que se repete no higienismo das cidades que sediarão a Copa, que expulsam os moradores pobres, vítimas da ausência de uma política urbana e social. Culpa de todos nós! Pagamos e pagaremos o preço, por tantos fascismos e fascistas, brotando e florescendo.

Mas o que fazer? Se, de assalto, os fascistas tomaram às ruas que tanto desprezavam e querem nos fazer acreditar que não temos mais direito a elas?

Diante desse embate, os libertários que tanto lutam e lutaram contra os fascismos, não podem recuar. Aqueles que prezam pela democracia e reivindicam uma reforma política. Os que querem uma cidade mais humanizada e menos motorizada. Os que não se conformam com os desmandos na nossa cidade, que em sua Câmara legislam três vereadores cassados em primeira instância, que tem um suplente de vereador que hoje trabalha no Gabinete do Dep. Jean Kuhmann e com um ex-prefeito acusado de corrupção agora presidindo o BADESC. Precisamos estudar mais e discutir mais política!  É a primeira vez que vejo nosso País preocupar-se mais com reforma política do que com jogo do Brasil, isso em plena Copa das Confederações. Precisamos também nos reunir, pois é preciso avançar para além da marcha catártica nas ruas. Precisamos pensar e planejar essa rua-cidade que se mostra querendo mudar.

Foto: Reprodução
Por isso, esse momento é relevante estar nas ruas sim, mas com pautas bem pensadas e refletidas, e ainda que encontremos lá os fascistas de plantão, nossos gritos terão que ser mais fortes. 

Mas não bastará levar e levantar bandeiras, para depois enrolá-las e deixá-las atrás da porta ou do guardarroupa de casa. É preciso agir continuamente. Se você quer mudanças, seja você também a mudança, impulsionando e participando dela. Envolva-se com movimentos e entidades voltadas às lutas que você bradou na rua e que visam uma cidade melhor para todos (e não pequenas reivindicações individualistas). Senão, o protesto nas ruas será só mais um daqueles desfiles de Oktoberfest, cuja fantasia e alegoria envelhecerão, esquecidas num canto da casa e da alma.


* Esse artigo foi publicado no Portal Desacato, de Florianópolis e no Portal Blumenews, de Blumenau.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

‘Eu consegui, eu tirei o meu filho da Polícia!’


Na última vez que estive em São Paulo (abril/2013), quando fizemos uma entrevista com Elza Lôbo*, ex-presa política durante o regime militar, conhecemos também o seu colega de trabalho Luiz, motorista da secretaria estadual de saúde de SP, que faz uns ‘bicos’ nos fins de semana, para complementar o orçamento de casa. Naquele fim de semana, ele trabalhou com D. Elza, para dirigir o carro dela e ajudar nos trajetos que faríamos do Hotel – Casa D. Elza – PUC/SP, Convento dos Dominicanos, Memorial da Resistência (extinto DEOPS) e Cinemateca.

Entre um trajeto e outro, foi possível conversar bastante com o sr.  Luiz. Ele nos surpreendeu ao contar que foi menino de rua, porque o pai ele não conheceu e a mãe faleceu quando tinha 8 anos. Em sua companhia, as movimentadas e barulhentas ruas de São Paulo transformavam-se em referências de sua história de menino de rua. E, ao passar por uma frondosa árvore ao caminho do Ibirapuera, nos contou que gostava muito dela, pois quando criança dormiu muitas vezes embaixo de sua copa, protegido do sereno ou chuva, em camas feitas com papelão e, nas noites mais frias, o papelão recolhido nas ruas transformava-se em improvisadas cabanas. Vendeu muita bala e chiclete nos semáforos de São Paulo. Apanhou da polícia. Aos 16 anos, uma senhora o acolheu: a partir daí tinha casa, comida e seu compromisso era estudar. Depois de uns anos, passou no concurso público para o cargo de motorista do estado de São Paulo, onde está até hoje.

O que mais chamou atenção na sua história foi quando nos contou da apreensão que teve quando um dos filhos entrou para os quadros da Polícia Militar de São Paulo. A partir daí, iniciou uma verdadeira cruzada para tirá-lo de lá. Convenceu o filho a montar um pequeno negócio para trabalhar nas horas de folga, com o dinheiro que economizou a duras penas – ‘simulou’ uma sociedade com o filho, contando pra nós com um sorriso de gente vivida, de gente que sabia que naquele momento não poderia bater de frente com o filho, mas sim deixar a vida ensinar.  Com o tempo, a truculência do meio policial e o com crescimento do negócio, o filho abandonou a polícia. Feliz da vida, nos disse: ‘Eu consegui. Eu tirei o meu filho da Polícia!’

Vocês tinham que ver o orgulho e a alegria vibrante na voz e nos olhos daquele homem. De forma simples, o sr. Luiz nos ensinou que é sempre possível construir outros caminhos. Sempre é possível ir contra o fascismo de Estado. Ali eu entendi, quase tudo. Sobre poder, Estado e polícia.



Polícia atirando balas de borracha em manifestantes sentados,
em São Paulo – 13/06/2013


(foto: reprodução)


Policial usa spray de pimenta contra cinegrafista
durante protesto em São Paulo – 13/06/2013
(foto: reprodução)

Repórter do jornal Folha de S. Paulo atingida
no olho por uma bala de borracha
(foto: Diego Zanchetta/AE)

* Esse artigo foi publicado no Portal Desacato, de Florianópolis e no Portal Blumenews, de Blumenau.

sábado, 8 de junho de 2013

Sobre a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva


(e porque eu não assino a petição para criação do Partido).

Lançada e liderada por Marina Silva, a Rede Sustentabilidade vem alcançando adeptos de todas as regiões do País, especialmente para coleta de assinaturas necessárias à formação de um partido. Sobre a Rede, tenho as seguintes considerações a fazer:


Vejo que seu programa tem como mote a sustentabilidade, em diversas áreas: econômica, política, ambiental, etc., e nisso estou de pleno acordo.


No entanto, não vejo posicionamento com relação a temas que mais gritam atualmente na sociedade brasileira, como o casamento civil igualitário e o aborto, agora com o famigerado projeto de estatuto do nascituro. E isso ocorre porque já temos na Rede grupos intimamente ligados ao fundamentalismo religioso, que saberão muito bem cobrar a fatura de seu apoio, como está acontecendo agora com o Governo Dilma.

Em meio a faixas contra em defesa da “família tradicional”, 
o militante Ivan, de camiseta da Rede, se aproximava das pessoas 
para pedir apoio ao partido. Às 18 horas, ele já tinha coletado 50 assinaturas. 
“É uma pena que não veio mais gente, dava para ter conseguido
 umas mil [assinaturas] aqui”, afirmou Ivan (foto). 
Fonte: Portal Desacato.
Apesar de negado pelo seu futuro novo partido, Marina Silva já disse que apoiava a realização de um plebiscito para que a população decidisse sobre o casamento civil igualitário — o que eu discordo totalmente. O direito de ter direitos não pode, de forma alguma, ser passível de plebiscito, isso é absolutamente inadmissível num Estado que se diz laico. E a coleta de assinaturas por grupos da Rede, numa manifestação de fundamentalistas religiosos que lutam a favor da homofobia (05/06/2013), pra mim foi a última gota.





Por isso, vejo na Rede uma ausência de novidade ou inovação perante a política brasileira, ainda que se esforce muito para vender essa ideia.


Por esses motivos, não assinarei a petição de criação deste partido.

terça-feira, 4 de junho de 2013

As pequenas revoluções

Ei, você!

Você mesmo, aí do outro lado da tela!

Não se cansa de ficar apenas indignado com a falta de ética, tanta violência e a má qualidade de vida nas cidades? Não se entedia nessa corrida contra o tempo, sempre atrás do capital, que nem sobra tempo pra viver? Não se cansa de não refletir sobre o sentido (ou a falta de sentido) que a vida moderna e pós-moderna te impõe? Já questionou como suas ações cotidianas contribuem para a manutenção desse estado catártico-social? Que tal fazer algo, ao invés de continuar seguindo tediosamente uma vida tecnocrática casa-trabalho-casa? acordar, comer, trabalhar, procurar distrações, beber, transar, dormir, e quem sabe, numa nuvem etílica ou entre um remédio para acordar e outro para dormir, amortecer-se.

É preciso refletir, e muito. É preciso, sobretudo, revolucionar-se. E não há nenhum problema se as revoluções começarem tímidas e pequenas, pois é deste impulso que saem as mudanças mais importantes. Fazer uma pequena horta no apartamento ou em casa utilizando sementes oriundas da agricultura familiar, significa romper com a exclusividade de consumo de alimentos comprados em supermercados, que além de possuírem um alto preço, vêm acompanhados de uma infinidade de agrotóxicos; Usar menos o carro, mais a bicicleta e transporte público, significa romper com a ideia de que o automóvel é o responsável por trazer qualidade de vida e mobilidade; estar sempre acompanhado de um livro e dedicar tempo à leitura, significa buscar conhecimento de mundo e não limita o indivíduo às versões de fatos trazidas pelo ‘Jornal Nacional’ ou a fazer replicações de frases feitas nas redes sociais. Conter a voracidade consumista a que servilmente nos submetemos e parar de usar o tempo só pra ganhar dinheiro, significa ter tempo pra fazer o que de fato pode trazer felicidade, como, por exemplo, conviver mais com as pessoas que amamos. São atitudes libertárias do bem viver.

Essas atitudes, dentre muitas outras, são também o que chamo de ‘pequenas revoluções’ pessoais e cotidianas. Pois é só no ato de revolucionar-se que é possível compreender a necessidade e a importância dos movimentos coletivos que estão surgindo por todos os lados, fronteiras e continentes. Somente revolucionando o seu cotidiano é que teremos a capacidade de participar e constituir coletivos e grupos que lutarão pela qualidade de vida e humanização da cidade. E é só a partir daí que conseguiremos exercer de fato a ‘cidadania’ (do latim, civitas, "cidade"), mais importante e relevante do que o ato de ‘administrar’ a cidade, que já não supre as necessidades para o bem viver.

Ao redor do planeta, apesar das mídias de massas insistirem em ignorar, abafar ou então distorcer os pequenos e também os grandes focos de movimentos que renegam o estilo de vida consumista, competitivo e frenético, eles estão ganhando força e importância política, como o Occupy Wall Street (EUA)*, o 15M (Espanha)**, o Movimento Anarquista (Grécia)*** e o mais recente Primavera Turca (Turquia)****, dentre tantos outros. A adesão vem aumentando e em alguns casos os poderes estatais ficam perdidos e até perplexos. Esses movimentos nada mais são do que a necessidade de união de pessoas que pararam e refletiram sobre o sobreviver frenético-consumista e a consequente degradação humana.

O Geógrafo David Harvey, professor emérito da City University Of New York, considerado principal teórico do direito à cidade e autor de ‘Rebel Cities(Penguin, 2012, ainda sem tradução no Brasil), recentemente concedeu uma entrevista ao Le Monde Diplomatique Brasil. Falando um pouco sobre seu livro, ele afirmou que “é preciso redefinir o proletariado de hoje para incluir todas as pessoas que produzem e reproduzem a vida urbana – e que, portanto, revolucionar a cidade é tão importante quanto revolucionar o local de trabalho”.  Harvey sustenta que ao analisar a Comuna de Paris e os movimentos revolucionários de 1848, haveria evidências históricas de que eles tinham como propósito recapturar a vida urbana para a massa da população. Infelizmente esses movimentos urbanos não foram levados a sério por muitos setores da esquerda. “As pessoas nas ruas, como vimos nas revoltas do Cairo, tomando conta de regiões simbólicas das cidades, são uma força política muito significante. Precisamos encarar as cidades como centros de legitimação política e potenciais para revoluções e transformações”.

Em Blumenau, tenho percebido a constituição de diversos coletivos, que começaram com divulgação pelas redes sociais. Alguns já se desfizeram, mas outros, aos poucos, estão tomando corpo e ritmo nas ruas e espaços da cidade. Dentre eles, posso citar o Clio no Cio, coletivo que nasceu na Universidade e dentre as mais diversas temáticas relacionadas, fez encontros também para discutir o corpo e a cidade. Podemos citar o Nosso Inverno, movimento da classe artística que surgiu inicialmente como um manifesto contra o descaso com a cultura em Blumenau, que chegou ao ponto crítico com a não realização do FITUB (Festival Internacional de Teatro Universitário) no ano de 2009. Desse evento, que também dividiu opiniões dos artistas, fez surgir novos movimentos artísticos, como o Vamosiuní, que desde 2011 reunia praticamente todas as tribos artísticas na Prainha, reocupando um espaço subutilizado até então e o Colméia, também destinado a reunir parte das produções e manifestações artísticas de Blumenau. Também temos o PIU – Projeto Intervenção Urbana, que visa realizar intervenções urbanas na cidade, de forma a tornar evidente os problemas que a cidade enfrenta; o Acupuntura Urbana em Blumenau, grupo que tem por objetivo provocar as pessoas a entender e planejar a própria cidade e instigá-las a apresentar propostas que promovam o convívio, o encontro e a integração com o patrimônio cultural e histórico. A entidade ABC Pró-Ciclovias, que está lutando desde a década de 1990 pela  implementação de ciclovias nas vias públicas e por espaços voltados ao uso da bicicleta, e que dentre inúmeras atividades, agora possibilitou o uso público de uma nova plataforma on line para que todos os cidadãos ciclistas possam comentar sobre os locais da cidade que são amigáveis ou não aos ciclistas e ao uso da bicicleta (www.bikeit.com.br/blumenau); o Coletivo Mobilidade Urbana, que discute a mobilidade na cidade, envolvendo pedestres, skatistas, ciclistas, motoristas e motociclistas, bem como luta por transporte coletivo decente e contra a exorbitância do preço das passagens inversamente proporcional à qualidade do serviço prestado; e o Coletivo Bicicletada Blumenau, que nasceu agora e está programando uma série de intervenções na cidade, buscando sensibilizar a comunidade quanto aos benefícios do uso da bicicleta e demais transportes alternativos, suscitando também questionamentos atinentes à qualidade de vida em Blumenau e a necessidade de uma cidade mais humanizada. Este coletivo fez sua primeira intervenção na cidade no mês de maio/2013, mostrando quantas bicicletas cabem no espaço ocupado por um único carro (http://vimeo.com/66195778).

Precisamos nos movimentar, criar, participar e fortalecer esses movimentos e coletivos em defesa da qualidade de vida e humanização da cidade. Não podemos mais ficar prostrados nos sofás e na frente de TV´s ou diante de notebooks e computadores, despejando verborragicamente frases prontas, destilando preconceitos e alimentando as atrocidades que aí estão, também com a conivência e atuação estatal.  Não há outro jeito de fazer acontecer.


Ou você revoluciona a si mesmo ou
não revoluciona coisa alguma.
(Michel Foucault)


Fonte: Armandinho, via Facebook.

* Movimento Occupy Wall Street (EUA): nascido em 17 de setembro de 2011 em Nova York, o Occupy Wall Street surpreendeu o mundo com um protesto sem líderes contra a corrupção e a avareza do sistema financeiro, que se foi ramificando para outras cidades dos Estados Unidos e da Europa de maneira inesperada. O objetivo final das diferentes concentrações buscou convergir na sede da Bolsa de Nova York, rodeá-la com um muro humano e tentar suspender suas operações para protestar contra o setor financeiro. “Ouçam todos. Hoje vamos fechar Wall Street”, gritava Austin Guest, um dos ativistas, da Water Street. Contudo, os manifestantes, que foram aumentando em número ao longo do dia, passando de cerca de 300 para mais de 1.000 à tarde, tentaram em várias oportunidades aproximar-se da Bolsa sem sucesso porque foram impedidos pelos numerosos reforços da polícia de Nova York. O advogado Gideon Orion Oliver, presidente da seção de Nova York da Liga Nacional de Advogados, informou pelo Twitter que o número de presos era de 104 às 11h30, horário local. “Estou aqui por conta da cobiça de Wall Street. Todos os caminhos levam a Wall Street, eles controlam as nossas vidas”, disse o bispo da Igreja Episcopal George Pachard, que liderava um dos grupos que se mobilizaram e foi preso na interseção da avenida Broadway com Wall Street. Outra manifestante, Cindy González, de 25 anos e oriunda de Staten Island (sul de Nova York), afirmou: “Não se trata de ser preso. Trata-se de mostrar ao país quem está destruindo a nossa economia”. O movimento chegou ao seu clímax nos primeiros dois meses, mas depois seus acampamentos instalados no centro de grandes cidades foram desalojados pouco a pouco pela polícia, em alguns casos de maneira violenta, como ocorreu com o de Zuccotti Park, perto de Wall Street, no sul de Manhattan, em meados de novembro. Fonte: Reportagem publicada no jornal argentino Página/12, de 18-09-2012.

** Movimento 15M (Espanha): O movimento surgiu após de uma passeata que aconteceu no dia 15 de maio de 2011 em todo o país, com objeto de reagir contra as políticas implementadas contra a crise econômica pelo governo espanhol - ditadas pelos poderes econômicos, destinadas a contentar os poderes econômicos acima dos interesses e necessidades da população. Essa passeata, preparada com meses de antecedência por vários coletivos e pessoas, foi um sucesso e foi reproduzida em todo o país, já que em todas as cidades aconteceu a sua manifestação. Em Madrid, ao final da passeata, um pequeno grupo de pessoas acampou na praça principal da cidade, a “Puerta del Sol” com objeto de visibilizar o problema. No entanto foram despejados na manhã seguinte e como resposta inesperada, até pelas pessoas que participavam do movimento, milhares de pessoas começaram a chegar à praça e ficaram no local durante três semanas, criando um acampamento que crescia e reorganizava-se. O acampamento chegou a ocupar quase toda a praça, ante a impotência e incompreensão dos poderes públicos, que tentaram proibir a manifestação. O despejo desmontou o acampamento, que albergava inúmeros espaços de ação e debates, mas foi mantido um ponto de informação na praça e o movimento se espalhou por bairros e cidades de todo Madrid, por todo o país e até por residentes espanhóis em algumas cidades européias e americanas que se manifestavam diante das embaixadas espanholas, junto a cidadãos solidários de aqueles países (Paris, Bruxelas, Buenos Aires, Atenas, etc.). Com isso, o 15M se fortaleceu como um movimento que está além da ocupação do espaço público, pois continua com suas atividades, com assembléias nos bairros, impedindo despejos de famílias que não podiam pagar pela hipoteca aos bancos, impedindo a polícia de capturar imigrantes irregulares, concentrando-se nas câmaras municipais com vereadores ou até presidentes imputados por corrupção. Sobretudo, o 15M permanece no espaço público, com marchas em várias cidades do país até a capital, passeatas contra decisões do mercado implementadas pelos governos ou simplesmente para celebrar debates públicos entre a cidadania. Na primeira semana de agosto, o movimento 15M voltou a ocupar as manchetes dos meios de comunicação por conta do despejo do ponto de informação que ficava na praça. O local foi fechado pela polícia, até mesmo os pontos de metrô e trem, para evitar protestos. O que as autoridades conseguiram com esta atitude foram vários dias de concentrações, passeatas e marchas de uma multidão de cidadãos indignados por terem fechado o espaço público à cidadania e por proibirem o exercício de livre trânsito pelas ruas, além do direito de manifestação. “Nossa vingança é sermos felizes, estamos dizendo isso faz tempo”. Fonte: http://www.outraspalavras.net/2013/05/16/muito-mais-que-indignados/

*** Movimento Anarquista (Grécia): O Nosotros, um prédio estreito de três andares, é o ponto de encontro do antifascismo e de uma sociedade alternativa, que prefere ignorar a crise em prol de uma economia local, sem amarras com o capital estrangeiro. No amplo primeiro piso, um café-bar, um salão e um grupo com uma proposta: mitigar as atividades dos membros do Aurora Dourada, o partido neonazista dono de 18 cadeiras no Parlamento grego. Receber ordem e obedecer porque alguém supostamente melhor que você está mandando? Não dá. Se eu tenho medo da polícia? O que você quer que eu faça? Fique sentada no meu sofá enquanto os imigrantes apanham dos nazistas? Impossível”, enfatizou Olga. “A polícia vem para cima, obedece ordem de fascistas, faz vistas grossas para o que está acontecendo e o país está em colapso. A gente não pode ficar quieto e só receber bomba de gás lacrimogêneo.” Rumos do Movimento: A filosofia do Nosotros, aberto em 2005, está inscrita nos princípios da AK (Alfa Kappa), o Movimento Antiautoridade de Atenas, a mais forte tendência do anarquismo grego. Seus membros tratam os centros sociais como o “maior acerto” para consolidar a AK. É a partir deles que surgem reuniões e ideias para combater o fascismo em interações mais amplas com a sociedade. O Nosotros tem sala de aula, computadores, internet grátis, um bar externo e outro interno, e quer escapar das amarras do governo grego. É também mais “aberto” à imprensa em comparação com similares mais radicais. A administração tem base na democracia direta e uma revista, a Babylonia, concentra a comunicação do grupo com artigos de opinião e matérias sobre as ações do movimento. Recentemente, o Nosotros organizou uma festa, cuja arrecadação ajudaria a pagar advogados para dois membros que estão presos após confronto com a polícia. Em outra corrente, estuda formas alternativas de economia e realiza rondas em bairros de imigrantes para coibir casos de violência gratuita contra os moradores - boa parte deles paquistaneses, albaneses, chineses e sírios. Seus membros não negam os coquetéis Molotov atirados contra a polícia em dia de protestos contra as medidas da Troika, e acentuam que não há outro caminho, a não ser o da resistência, com a criação de um cosmos alternativo, anti-Estado. “Para nós não interessa se o Parlamento aprovou ou não o memorando do FMI. Não estamos interessados nesse tipo de política”, afirmou Olga. “Agora, se o neonazismo continuar crescendo, nós vamos crescer também e vamos enfrentá-lo.”  Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/26146/contra+fascismo+anarquistas+gregos+abrem+centros+sociais+e+acolhem+imigrantes.shtml

**** Primavera Turca (Turquia): Há quatro dias (28/05/2013) um grupo de pessoas alheias a qualquer organização ou ideologia específica se juntaram no Istanbul's Gezi Park (um importante parque central da cidade). Seus motivos eram simples: prevenir e protestar contra a demolição agendada de todo o parque (com 600 árvores) para a construção de um shopping bem no centro da cidade. Existem numerosos shoppings em Istambul, pelo menos um em cada bairro! O corte das árvores estava programado para iniciar na quinta-feira (28) pela manhã. As pessoas foram até lá: mulheres com seus lenços, pessoas com seus livros, famílias com crianças. Ocuparam a praça com suas barracas e passaram a noite sob as árvores. Na manhã seguinte, quando os tratores começaram a destruir algumas árvores centenárias, as pessoas se puseram no caminho dos operários para interromper a demolição. Eles não fizeram nada além de manter-se parados frente às máquinas. Nenhum jornal, nenhum canal de televisão, ninguém estava lá para cobrir o protesto. Houve um completo blecaute da informação por parte da mídia.Mas a polícia chegou: com seus veículos com canhões de água e spray de pimenta a jato, eles perseguiram a todos em volta do parque. À noite, o número de protestantes se multiplicou. O mesmo aconteceu com a força policial. Enquanto isso, o governo local de Istambul desabilitou todas as formas de entrada para a Taksim Square, aonde o Gezi Park está localizado. O metrô foi bloqueado, assim como todos os transportes coletivos e inclusive algumas ruas.  Ao contrário do que se queria, mais e mais pessoas marchavam a pé rumo ao centro de Istambul. Eles vinham de toda parte. Vinham com diferentes passados, diferentes ideologias, diferentes religiões. Todos se reuniram para prevenir a demolição de algo maior do que o parque: O direito de viver como cidadãos honrados de seu país. Eles se reuniram e marcharam. A polícia os perseguiu com spray de pimenta e muito gás lacrimogênio. Avançavam com seus tanques sobre todos que se colocavam no caminho. Dois jovens foram atropelados e mortos pelos tanques. Não existe uma “agenda oculta” como o Estado gosta de afirmar. Sua agenda está aí, e está muito clara. O país inteiro está sendo vendido pelo governo às grandes corporações, para a construção de shoppings, condomínios de luxo, rodovias, plantas nucleares.  Acima de tudo isso, o controle do governo sobre a vida das pessoas tem se tornado insuportável nos últimos tempos. O Estado, sob sua agenda conservadora, passou muitas leis e regulamentações relativas ao aborto, à venda e ao uso de álcool e até mesmo restrições sobre a cor do batom das aeromoças das linhas aéreas da Turquia. As pessoas que estão marchando no centro de Istambul estão demandando o direito de viver livremente e receber justiça, proteção e respeito de seu Estado. Eles demandam envolvimento nas decisões de interesse público do lugar onde vivem. O que eles receberam além de força excessiva e numerosas quantidades de gás lacrimogênio direto em seus rostos? Apesar das duas mortes, dos feridos, ou até das duas pessoas que perderam a visão, ainda estão todos lá. Milhares de pessoas se juntando a cada dia. Escolas, hospitais e até mesmo hotéis 5 estrelas ao redor da Taksim Square abriram suas portas às pessoas feridas. Médicos encheram salas de aula para prover primeiros socorros. Alguns policiais se recusaram a jogar spray em pessoas inocentes e se demitiram. Ao redor da praça, a polícia colocou bloqueadores de sinal para impossibilitar as pessoas de se comunicarem com seus sinais 3G. Residentes e comerciantes da área disponibilizaram zonas de wireless para que as pessoas conseguissem acesso. Restaurantes estão provendo comida e água sem custo. Pessoas em Ankara e Izmir se reuniram nas ruas para apoiar a resistência de Istambul. E os meios de mídia continuam mostrando a Miss Turquia e o gato mais estranho do mundo." Fonte: http://defnesumanblogs.com/2013/06/01/what-is-happenning-in-istanbul/


* Esse artigo foi publicado no Portal Desacato, de Florianópolis e no Portal Blumenews, de Blumenau.