Por Sally Satler / Carla Fernanda da Silva
Foto: Sally Satler |
Foi na segunda
(18/11/2013), início da noite. Atraída pelo som de pandeiros eu vi, dentro da
casa de Edith Gaertner, os negros orixás com suas vestes. As imagens de Congás,
do pai-de-santo e ekédjis, de caboclos, pretos-velhos, oguns e iemanjá espalharam-se
pelo Museu da Família Colonial.
No quintal,
corpos negros jogavam capoeira, animados por músicas negras e berimbaus. Dava
para sentir as entidades, negros e negras que já viveram em Blumenau, foram
tantos e tantas, invisíveis aos olhos da história.
“O nosso dia chegou, demorou demais, mas
chegou. Teve que ser de mansinho e sutil. Muitos que aqui estão não conhecem
nossa história, porque não nos deixaram contar”.
“Vamos gritar pra eles ouvirem, então!” –
disparou Avandié, com o jornal
“The Colored” em punho, bem vestido, com seu terno impecável e sapatos
lustrados.
“Te assossega, homi. Senão eles se
assustam! É bem devagar que eles saberão. Vamos assoprar no
ouvido dessas pessoas que estamos felizes e aqui queremos ficar,
pois também é o nosso lugar ”.
E ao som dos pandeiros
e berimbaus as pessoas começaram, timidamente, a cantar:
Foge o nêgo sinhá
Oiá iá iá ía
Traz o nêgo sinhá
Paranauê, paranauê paraná
Paranauê, paranauê paraná
Abro e fecho os
olhos, quase sem me acreditar ao ver negros corpos em sua dança mágica neste
jardim, há tanto tempo colonizado. Hipnotizada pelo ritmo dos corpos e da
música, sinto que ainda falta muito para conhecermos a história e as memórias
daqueles negros que viveram/vivem e sofreram/sofrem aqui em Blumenau.
Com a palavra,
os nossos historiadores!
[i] Bertilha da Rosa faleceu
em 1986, atropelada por um ônibus em frente ao Corpo de Bombeiros de Blumenau.
Pouco sabemos de sua história, apenas que em algum momento de sua vida
enlouqueceu, e entre os internamentos na antiga Colônia Santana, perambulava
pelas ruas de Blumenau. Nunca caminhava nas calçadas, sempre nas sarjetas das
ruas, falando sozinha e com uma pedra na mão, como quem tem medo da sociedade
onde vive e dela procura se defender. Ela também é personagem recorrente nas
obras do escritor afroblumenauense José Endoença Martins.
[ii] Avandié foi um dos principais líderes
negros da região, criou em Blumenau a UCHIC – União Catarinense dos Homens de
Cor, em 1962. A UCHIC ficou ativa até os anos 1980, promovendo congressos,
campanhas educacionais, palestras e concursos de beleza. Também publicou o
jornal “The Colored”, em edições que contavam sobre o cotidiano dos negros no
continente africano.
* Esta crônica foi publicada no Portal Desacato, de Florianópolis e no Portal Blumenews, de Blumenau.
* Esta crônica foi publicada no Portal Desacato, de Florianópolis e no Portal Blumenews, de Blumenau.
Nenhum comentário:
Postar um comentário