quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Morro do Aipim e o Frohsinn: quem está com o fósforo?


Todos os blumenauenses sabem que este incêndio no Frohsinn não foi acidente. Câmeras de segurança foram furtadas, antes das duas outras tentativas de incêndio. Não houve acaso, mas um planejamento cuidadoso. Ironicamente, froshinn significa alegria em alemão, e assim sinto que sistematicamente tem se destruído a alegria desta cidade, que está se tornando um local bem difícil para se viver.

Afinal, quem são essas pessoas que continuamente passam por cima da vontade da maioria da população? Quando vamos dar um basta nos desmandos deste grupelho?

Há um projeto para o local – agora apenas mirante do Froshinn – que beneficia toda a população, pois pretende mantê-lo público, com livre acesso para todos; projeto este que a Administração do município ignora sumariamente, ‘cegos’ e sedentos em concretizar a venda daquele terreno. Tanto é, que quando artistas tentaram levar vida àquele local, foram expulsos, com violência, cacetetes e spray de pimenta.


Foto: Grupo Por Gentileza, em Blumenau (Facebook)

Estamos mesmo sem passaporte. Sem rumo e roteiro. A cidade, em nome da especulação imobiliária se desintegra, e o poder público, conivente, permite matar a cidade, sua história e qualquer chance de garantir qualidade de vida para seus cidadãos, tudo em nome do lucro de alguns poucos.

A melhor resposta para o título deste breve texto, veio da historiadora Carla Fernanda da Silva: “Têm muitos, mas muitos blumenauenses com o fósforo aceso nas mãos. Administração municipal, os conselheiros que votaram a favor da venda, apoiadores e os indiferentes”.

 
Foto: Jaime Batista da Silva

E você? Também está com o fósforo aceso nas mãos?

Se não, então contribua com a cidade, imprima e assine a petição pública abaixo[1], organizada pelo Grupo Movimento contra a venda do Frohsinn[2] e ajude a manter aquele local público. Ou ainda, recolha assinaturas entre os seus conhecidos, vamos reagir a essa imposição, não permita que os incendiários do Frohsinn sejam vitoriosos.




[1] Abaixo-assinado para impressão em papel: clique aqui. Para assinar petição pública on line: clique aqui.
[2] Saiba mais sobre o Movimento contra a venda do Frohsinn: clique aqui


Artigo publicado no Portal Desacato (Florianópolis), Portal Blumenews e Jornal Expressão Universitária (Sinsepes/Furb).

domingo, 10 de agosto de 2014

Shakespeare and Co: uma experiência para leitores e escritores


Existem mais de mil de livrarias em Paris, mas entrar na Shakespeare and Company e subir suas estreitas escadas de acesso ao segundo piso, remete-nos a uma breve viagem à Paris literária dos anos 20 e 30, com atmosfera própria, quando os escritores da “geração perdida”, como James Joyce, Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, passaram alguns anos na cidade em busca de inspiração para aqueles que se tornariam seus mais famosos livros.


Foto: Sally Satler

Shakespeare and Company foi aberta em 1919, funcionou primeiro numa ruela da Rive Gauche e dois anos depois foi para a rue de l´Ódeon, onde permaneceu até 1940, quando fechou devido à ocupação alemã da França, na segunda guerra mundial. Idealizada pela livreira, editora e escritora Sylvia Beach[1], a livraria conseguiu se tornar um espaço para escritores que não tinham onde pernoitar, mas podiam ajudar com pequenos serviços por algumas semanas, além do compromisso de ler uma obra por dia.

Muitos aspirantes a escritor tornaram a livraria sua morada e experiência literária; Ernest Hemingway narra em ‘Paris é uma Festa’ a maravilha que eram suas visitas à livraria e a gentileza e generosidade da dona em emprestar o que ele quisesse ler, mesmo quando não tinha dinheiro para alugar ou comprar os livros. Foi também com o selo desta livraria que James Joyce conseguiu publicar Ulysses, numa época em que todas as editoras o rejeitaram.

Com o falecimento de Sylvia, em 1951, foi George Whitman que decidiu retomar o projeto: incorporou os livros da antiga livraria e rebatizou sua loja para Shakespeare and Company, na rue de la Bucherie, próximo à Notre Dame, na margem esquerda do Sena. Virou ponto de encontro de escritores como Samuel Beckett, Anais Nïn, Arthur Miller, etc. Da geração Beat, recebeu Allen Ginsberg e Jack Kerouac. Atualmente, a responsável pelo espaço é Sylvia Beach Whitman, filha de George, quando ele faleceu em 2011.

Shakespeare & Co não é qualquer livraria, reúne amantes dos livros e suas histórias; andar por entre suas estantes nos faz esbarrar em outros leitores distraídos, que nos devolvem um olhar cúmplice, de quem guarda, nem tão em segredo, essa paixão pelos livros. O local transmite uma sensação de nostalgia, e, por alguns minutos, parece nos transpor aos anos 20. Entrar nesta livraria é uma experiência deliciosa: em meio às paredes cobertas de livros, amontoados também em estantes e outros suportes, permanecem as mesas com máquinas de escrever e as camas para abrigar novos escritores por algumas semanas, em troca de um pouco de trabalho no caixa ou algumas horas de faxina, além do comprometimento de ler um livro por dia[2].


Foto: Sally Satler



Foto: Sally Satler

Em todos esses anos, mais de 40 mil pessoas de todos os cantos do mundo toparam a experiência. E você, toparia? Estava me perguntando isso quando um livro caiu sobre a minha cabeça enquanto descia as escadas, olhei para cima e vi apenas uma fileira de livros bem dispostos sobre uma prateleira. Seria algum dos antigos escritores me convidando a dividir sua experiência? 

Ah, esse mundo literário!


Foto: Sally Satler


[1] Sobre Sylvia Beach, indicamos a sua autobiografia: “Shakespeare and Company” (Casa da Palavra, 2004).
[2] “Um livro por dia” é o título do livro de Jeremy Mercer (Casa da Palavra, 2007), jornalista que escreveu sobre suas experiências ao morar na livraria, repetindo a vivência de tantos outros escritores que passaram por ali.

Esta crônica foi publicada no Portal Desacato (Florianópolis), Blumenews (Blumenau) e no blog Literário.